quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Professor que virou notícia: 90 anos de Paulo Freire


Se tivesse ainda entre nós, freire estaria comemorando no dia 19 de setembro os seus 90 anos. Mas como diz meu compadre Antônio Eduardo, do Roçado Grande, de Barro Preto - Ba,”a gente só morre quando a última pessoa que gosta da gente morrer, deixar de se lembrar de nós”. Logo, Paulo está vivíssimo no coração e na mente daqueles que tiveram oportunidade de conviver com ele (nosso caso), bem como na vida daqueles que estão dando continuidade aos seus ideais. Ainda nos anos 60, professora Vera Barreto convidou Paulo Freire par ir a São Paulo falar sobre a experiência de alfabetização que ele estava desenvolvendo. Enquanto ela o esperava no aeroporto, apareceu um jornalista amigo dela. Vera então sugeriu ao amigo: “Aproveite e faça uma entrevista com um professor pernambucano que está desenvolvendo um método revolucionário na alfabetização de adultos. O amigo lhe respondeu:” Vera, quando é que professor vai ser notícia neste país?! Felizmente, esse jornalista errou feio! Mesmo tendo viajado fora do combinado, como brinca mestre Bodrin, ele foi e continua sendo notícia no mundo inteiro.
Penso que nessa virada de milênio quando se fala em “Fim da História”, em “Política como arte do possível”, em "Propostas pragmáticas”, em “Pensamento único”,em “Silêncio dos intelectuais”, em “Fim das utopias”; quando na educação vivenciamos os “ pacotes pedagógicos”, os Cursos de educação 100% a distância”, precisamos, mas do que nunca, nos voltarmos, seriamente, não para a decoreba de algumas frases de Paulo, mas para um estudo sério da sua obra. Esta é a condição para que uma universidade brasileira possa dizer que está desenvolvendo um curso de licenciatura sério, pois o pensamento de Paulo Freire continua como um dos mais rigorosos sobre a realidade brasileira e um dos maiores faróis para a humanização do ser humano nesse novo milênio, como atesta grandes educadores brasileiros e estrangeiros, como o seu conterrâneo, professor João Francisco de Souza, na sua belíssima obra a Atualidade do Pensamento de Paulo Freire.
São muitas as lições que devemos resgatar do mestre pernambucano no caminho da humanização do ser humano, da democracia... Mas como o momento é de celebração, serei breve, destacando apenas uma : “Temos que ter muito cuidado para não humanizar as coisas e coisificar o ser humano.” Penso que em toda a sua obra a Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Pergunta, Pedagogia do Conflito, Pedagogia da Esperança, Pedagogia da autonomia, Pedagogia da indignação soma esforços para superar os processos, “as manhas” da coisificação do ser humano, por isso devem ser lidas e relidas com muita acuidade, com muita ética, com muito compromisso.
Talvez, se levarmos a sério essa leitura, se nos apropriarmos desse referencial humanista, não veremos mais um sonhador do povo passar para o outro plano com essa dor em sua alma, com essa imagem dramática de coisificação do ser humano em sua retina:
Cinco adolescentes mataram hoje, barbaramente, um índio pataxó, que dormia tranqüilo, numa estação de ônibus, em Brasília. Disseram à policia que estavam brincando. Que coisa estranha. Brincando de matar. Tocaram fogo no corpo do índio como quem queima uma inutilidade. Um trapo imprestável. Para sua crueldade e seu gosto de morte, o índio não era um tu ou um ele. Era aquilo, aquela coisa ali. Uma espécie de sombra inferior do mundo. Inferior e incômoda, incômoda e ofensiva. (...) Que coisa estranha, brincar de matar índio, de matar gente. Fico a pensar aqui, mergulhado no abismo de uma profunda perplexidade, espantado diante da perversidade intolerável desses moços desgentificando-se, no ambiente em que decresceram em lugar de crescer.”
Noel Costa - Educador Popular – Supervisor do TOPA – Direc 7

Fonte: http://www.topadirec7.blogspot.com/

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