domingo, 11 de julho de 2010

TOPA um desafio ?

Reportagem de André Lázaro - Secretario de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, vinculada no Jornal A Tarde de 24/06/2010.

A alfabetização de jovens e adultos é, ainda no século XXI, um dos importantes desafios que a sociedade brasileira está enfrentando. Dados do IBGE indicam a existência de pouco mais de 14 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que respondem "não" à pergunta feita pela pesquisa: “Você sabe ler e escrever um bilhete simples ?”
Para quem consegue ler este artigo, a condição de analfabeto pode parecer fruto da falta de interesse dos não alfabetizados. Para os que avaliam que o analfabetismo é resultado de desinteresse pessoal, vale lembrar que nosso País tem hoje 98% das crianças, de 7 a 14 anos, na escola; mas ainda estão fora dela 1,6 milhão de jovens de 15 a 17 anos. Portanto, chegamos a este século arrastando o peso da escravidão (13,6% da população negra com mais de 15 anos é analfabeta) e de descaso com a educação das classes populares. O campo pagou a maior parte dessa conta (23,5% da população rural com 15 anos ou mais é analfabeta).
Alfabetizar jovens e adultos ainda é um desafio. Costumo fazer uma comparação que não é correta tecnicamente, mas justa do ponto de vista do esforço pessoal. Muitos de nós, leitores e letrados, com carreira profissional, nos inscrevemos em cursos de línguas estrangeiras, sabedores dos ganhos culturais e profissionais. Muitas vezes abandonamos por não conseguir compatibilizar com nossa jornada de trabalho, de oito horas em média.
Imaginem agora a condição das pessoas analfabetas: têm baixa remuneração, executam tarefas árduas e muitas vezes com mais de oito horas de trabalho por dia. Colocando-nos no lugar deles, percebemos que não é fácil vencer o desafio de aprender a ler, escrever e contar. Além disso, surgem outras dificuldades como a questão da acuidade visual. A idade média do analfabeto no Brasil é de 54 anos. Quem enxerga bem aos 54 anos? Há boas condições na sala de aula? O alfabetizador recebeu formação adequada para lidar com adultos sem infantilizá-los? O alfabetizador conhece o legado de Paulo Freire para, a partir das questões do cotidiano, edificar a motivação e a estratégia pedagógica construindo, com o educando, confiança em sua capacidade de aprender?
Como se vê, são muitos os desafios. Segundo o IBGE, a Bahia ainda tem o maior número absoluto de analfabetos do Brasil: 1,8 milhão de pessoas. Mas a sociedade baiana dá sinais de topar o desafio: o Programa Todos pela Alfabetização - o Topa - é o maior parceiro do Programa Brasil Alfabetizado. Desde que o Topa foi instituído, em 2007, mais de 1 milhão de educandos estão cadastrados no programa. O IBGE registrou que na Bahia houve uma das mais significativas quedas da taxa de analfabetismo do País.
O impacto da alfabetização de jovens e adultos vai muito além das vantagens - imensas - que o indivíduo alcança. Inúmeras pesquisas informam, por exemplo, que quanto mais escolarizada a mãe, melhor a saúde de seus filhos. Os resultados de aprendizagem
das crianças também refletem essa correlação: famílias mais educadas apoiam mais vigorosamente o estudo dos filhos.
Todos nós ouvimos ou dissemos o mesmo; adágio popular: -"Tudo o que tenho para deixar para meus filhos é a educação". Ninguém quer que seu filho tenha menos educação do que teve.
Por essas razões, merece registro a decisão do governo da Bahia e da sociedade baiana de enfrentar o analfabetismo no Estado. Nenhum outro Estado da Federação tem feito esforços na mesma proporção, em quantidade e qualidade. Vale destacar também a implantação da Agenda Territorial de Desenvolvimento de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos no Estado, ação conjunta do poder público e da sociedade civil que visa articular estratégias das ações de alfabetização e de educação de jovens e adultos, oferecendo oportunidades para a continuidade dos estudos.
Para que esses esforços logrem sucesso, é fundamental que a sociedade baiana mobilize
os analfabetos para o efetivo exercício do direito à educação e veja neste empenho um investimento cujo retomo a atual e as futuras' gerações saberão valorizar.